Crônicas da vida em pandemia
Crônicas da vida em pandemia
Se há algo que esse vírus ensinou, é que somos interdependentes. Tão interdependentes que até o próprio vírus só existe enquanto estiver dentro de um organismo vivo. Criamos a falsa ilusão de que somos independentes. Pior, temos a presunção de pensar que somos diferentes, melhores ou piores que alguém. Que a condição financeira, o status social, o sobrenome ou os títulos acadêmicos nos tornam diversos dos nossos pares. Mas não. Somos feitos do mesmo material, da mesma espécie e somos acometidos pelas mesmas mazelas, pela mesma predisposição à doença e ao medo da morte. E assim, contaminados uns pelos outros apesar de todos os esforços preventivos, a dependência que temos de nossos pares fica evidente. É preciso isolamento. E então percebemos que não somos autossuficientes. Que somos seres sociais, antes de tudo. Que carecemos de contato e precisamos uns dos outros. Assim como "tocamos" as vidas através da possibilidade de contágio de um vírus podemos "tocar" as vidas através das emoções, contagiar com o amor e alegria.Um homem. Um vírus. Uma província distante. Foi apenas o que precisou para nos mostrar que somos uma teia de interações interdependentes de seres que em última instância são humanos, apenas humanos.E enquanto choramos nossos mortos, tomamos consciência da tênue condição humana e buscamos caminhos para exercitar a esperança e a resiliência, buscando viver plenamente com a certeza da finitude da vida.